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15dez 2016

Depoimento Renato Ourives Sobre I Workshop Liderança ConnectHorse (Impressões erigidas do metier em Direito Corporativo e da experiência com cavalos)

Renato Ourives Neves*

Prolegômenos

Liderança, cooperação, competição, estímulos positivos e negativos, conforto e desconforto, conflitos de agência e timing são alguns dos temas abordados pela Connect Horse, tudo em ambiente lúdico, no qual o cavalo, como vedete, inspira, induz, revela e extrai ações não raras vezes confinadas no inconsciente de quem se candidata à experiência.

Para os incipientes em cavalos, vivenciar a sensação, no centro do redondel, revela um novo sentido, aliado àqueles discutidos no Tratado das Sensações, de Étienne de Condillac[1]. Descortina-se sensação diferente, perceptível, mas pouco descritível.

Na ribalta proposta, alguns se sentem atribulados, outros aquinhoados, poucos se considerarão vencidos ou vencedores, porque o cavalo, no conjunto das características de seu caráter, não dá respostas óbvias aos olhos desarmados, mas também não falta com a coerência. Exatamente neste hiato é que atuam os experts da Connect Horse, para revelar e – como se lhes abrissem os olhos – dizer aos espectadores e àquele que atuou no centro do redondel, os efeitos de pequenos gestos, opções voluntárias ou não do sugerido papel de líder, pela posição geométrica das personagens. A grande surpresa é que a liderança reclamada naquele mundo redondo de homem e cavalo poderá ser de um ou de outro. Ajustes pontuais do ator humano, indicados pela técnica aplicada, influenciará, decisivamente, para resultados simétricos. A propedêutica Connect Horse leva a um agir seguro, com fincas a resultados previsíveis, inclusive adversos, mas sob provisões contingenciais eficientes, como convém ao ambiente corporativo.

Na vanguarda da utilização do cavalo como recurso de capacitação, preparação, avaliação e seleção de líderes, assim como ferramenta de mitigação de conflitos de agência ou harmonização de relações de trabalho, independentemente de sua qualificação jurídica, a Connect Horse parece adotar modelo filosófico do Hedonismo, de Epicuro, o que proporciona conforto e desencadeia reações bem ecléticas entre os participantes, homens e cavalos. O compromisso firmado é um só: ao final, homem e cavalo devem sair mais relaxados do que quando entraram ao redondel.

O utilitarismo como método eficiente aos fins do Modelo Connect Horse

O utilitarismo é corrente econômica que, baseando-se na escolha natural, o indivíduo toma suas decisões a partir da expectativa de maximização do bem-estar. Dos grandes nomes desta corrente, destaca-se Bentham, citado na obra de Michael J. Sandel:

“Jeremy Bentham, filósofo moral e estudioso das leis, fundou a doutrina utilitarista. Sua ideia central é formulada de maneira simples e tem apelo intuitivo: o mais elevado objetivo da moral é maximizar a felicidade, assegurando a hegemonia do prazer sobre a dor.”[2]

Voltando ao cerne do tema, a Connect Horse parece recorrer ao utilitarismo, como método de escolhas, na medida que oferece ao cavalo a opção. O desafio é ensinar ao homem a garantir a escolha a ser feita pelo cavalo, nos exercícios propostos.

Parece ter o utilitarismo bastante das lições de Goethe[3], na medida que coteja dor e prazer. Não falaremos, aqui, dos ideais sublimes deste escritor alemão, por não interessar incursão, por enquanto, ao mundo transcendente ao sensível. A experiência do Connect Horse busca – pelo que vi – as sensações, parecendo brincar com elas, valorizando a experiência empírica, como teste à teoria, tudo sob fino monitoramento epistemológico por quadro de pesquisadores altamente qualificados, ao lado de gestores práticos, sendo o redondel o banquete que sela as núpcias do potencial do cavalo com as demandas reclamadas pelo mundo corporativo, sobretudo no que diz a respeito ao líder.

O timing

Francis Bacon,[4] sugere, em razão da impossibilidade de se conhecer algo ou alguém de imediato, o seguinte: “Em todos os assuntos um tanto difíceis, é mister não querer semear e colher ao mesmo tempo, devendo-se ter o cuidado de fazer uma preparação dos negócios e conduzi-los gradativamente até seu ponto de amadurecimento”.

Para tudo tem um momento certo de agir, sob pena de se perder a oportunidade. Pode ser maior ou menor o tempo, mas ele existe e deve ser observado. No cavalo, o timing é ainda mais rigoroso, impondo atenção e foco daquele que se propõe a liderar no centro do redondel. A capacidade pessoal de decidir, no chamado tempo econômico, ou seja, no tempo útil, pode ser bem avaliada no exercício. O ato em tela não pode ser serôdio, mas também não pode ser de inopino ou precipitado. O tempo certo é a chave do comando, para o sucesso do exercício. Isto tem aplicação necessária no mundo corporativo.

O modelo Connect Horse como ferramenta de contingenciamento a “conflitos de agência” e ensaios de liderança

O “Conflito de Agência”[5] é tão prevalente quanto as disfunções entre as partes da relação empregatícia. Contudo, não se confundem, eis que o nível de independência dos atores de Agência é maior, o que produz menor ingerência de uma personagem sobre outra no ambiente corporativo. Parece-nos que, na relação de agência, o modelo Connect Horse se mostra indicado e eficiente para inibir comportamentos deletérios ou atos de oportunidade, em detrimento da corporação. O resultado esperado deve ser aquele planejado ou admitido, repelindo-se os trunfos capazes de desencadear incertezas não idiossincráticas.

O exercício com cavalos admite criatividade, mas não trunfos. O trunfo traz desconfiança e induz comportamentos imprevisíveis. Para adquirir condições criativas, o líder que se põe ao centro do redondel deve ter disciplina, boa capacidade de observação e raciocínio alicerçados em memória instrumental. É necessário saber o que pedir, sob pena de atrair o efeito Esopo[6], da Fábula “Rãs Pedindo Rei”. As rãs viviam tranquilas em um brejo mas, esgotadas pela monotonia, pediram ao deus Júpiter que lhes enviasse um rei. Deus lhes mandou um galho de árvore. No início, sentiram-se atendidas, mas, depois, ao se acostumarem com o pedaço de madeira, banalizando o signo que representava, voltaram a reclamar junto a deus. Imploraram por um rei. Deus, então, lhes mandou uma cegonha. Moral da estória: saiba o que pedir (a cegonha come rãs!).

Escritores como Amartya Sen[7] e Zygmunt Bauman[8] devem ser de leitura obrigatória para os envolvidos com o modelo Connect Horse. O primeiro por indicar a necessidade de um método suscetível ao teste, o segundo por preconizar testes de movimentos necessariamente atrelados à investigação de resultados. Na Connect Horse, a resposta deve vir, em primeiro plano, do cavalo, ente menos corrompível – no sentido lato – pelas vicissitudes normais. Os resultados seriam mais simétricos em relação a cada conduta, daí o porquê de ser a ferramenta ideal para ensaios de liderança corporativa.

Síntese

O modelo Connect Horse é revolucionário não porque usa o cavalo como ferramenta metodológica de gestão, mas porque alinha teoria e práxis do comportamento natural dos cavalos aos desafios do ambiente corporativo, sobretudo no que toca à liderança.

Por certo, o Tratado das Sensações ganharia capítulo especial se Condillac tivesse conhecido os ensaios com cavalos. Shakespeare, em suas obras literárias, sempre coloca um observador, alguém de fora, para dar sua opinião. Em suas obras, conhecemos os pontos de vista de todas as personagens envolvidas e do terceiro que assiste. O utilitarismo também faz tal incursão. A Connect Horse parece ir além, pois não só colhe as impressões dos envolvidos – sobretudo do cavalo – e dos observadores, mas indica maneiras de induzir comportamentos. Vale a pena experimentar.

* RENATO OURIVES NEVES

Mestre em Direito – Ex professor de Direito Comercial da Universidade Federal de Ouro Preto – Professor de Direito Empresarial e de Direito Tributário dos cursos de pós-graduação em Planejamento Tributário da UNIPAM – Administrador Judicial de Falências e Recuperações Judiciais de Empresas – Advogado – Árbitro
Referências bibliográficas:

[1] CONDILLAC, Étienne de. Tratado das sensações. Tradução Denise Nottman Campinas. Unicamp, 1993.

[2] SANDEL, Michael J. Justiça – o que é fazer a coisa certa. Trad. Heloisa Matias e Maria Alice Máximo. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 48.
[3] JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (Frankfurt am Main, 28 de Agosto de 1749 — Weimar, 22 de Março de 1832) foi um autor e estadista alemão que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Wolfgang_von_Goethe – consulta realizada em 16 de setembro de 2016)

[4] BACON, Francis. Ensaio sobre moral e política. Trad. Edsob Bini. Bauru: Edipro, 2001, p. 160.

[5] ou agency problems: EASTERBROOK, Frank H.; FISCHEL, Daniel R. The economic structure of corporate law. Cambridge: Harvard University Press, 1991 e KRAAKMAN, Reinier et al. The Anatomy of Corporate Law: A Comparative and functional approach. Oxford:Oxford University Press, 2004.

[6] ESOPO: fabulista grego de existência duvidosa a quem se atribuem as fábulas reunidas por Demétrio de Falero no século IV a.C.

[7] escritor e economista indiano. Recebeu Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel de 1998, pelos suas contribuições à teoria da decisão social e do “welfare state”.

[8] sociólogo polonês.

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